A megaoperação contra o Comando Vermelho, realizada nesta terça-feira (28) nos complexos do Alemão e da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, tornou-se a mais letal da história do Estado, segundo dados do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (Geni/UFF). O balanço preliminar aponta 64 mortos, entre policiais e criminosos, número que ultrapassa em mais do que o dobro o recorde anterior, registrado em 2021, no Jacarezinho, quando 28 pessoas morreram.

O levantamento do Geni/UFF, presente no relatório Chacinas Policiais, mostra que entre 2007 e 2021 foram realizadas 17.929 operações policiais em favelas da Região Metropolitana do Rio. Desse total, 593 resultaram em chacinas, com 2.374 mortos — o equivalente a 41% dos óbitos em operações policiais no período. A capital concentra 64,6% dessas ocorrências, seguida pela Baixada Fluminense (21,4%) e pelo Leste Fluminense (14%).

A ofensiva desta terça mobilizou cerca de 2,5 mil agentes civis e militares, com apoio aéreo e blindados, e provocou grandes impactos na rotina da cidade. Segundo o governo estadual, o confronto afetou 48 escolas, paralisou linhas de ônibus e trechos do BRT, e provocou interdições em vias importantes, como a Linha Amarela, Avenida Brasil, Autoestrada Grajaú-Jacarepaguá e Linha Vermelha.

O Centro de Operações e Resiliência da Prefeitura (COR-Rio) colocou a cidade em Estágio 2 de atenção, devido ao risco à mobilidade e à segurança pública, recomendando que a população evitasse deslocamentos. A Rio Ônibus informou que mais de 120 linhas alteraram seus trajetos.

O governador Cláudio Castro (PL) confirmou a morte de agentes, entre eles o policial Marcos Vinicius Cardoso Carvalho, da 53ª DP (Mesquita), e afirmou que há outros policiais feridos, sem detalhar o número.

A operação reacende o debate sobre a violência policial e o avanço do crime organizado no Estado. Especialistas alertam que a escalada dos confrontos nas comunidades reflete falhas estruturais de segurança pública e a ausência de políticas sociais permanentes, que poderiam reduzir a dependência do uso da força armada como instrumento de controle territorial.